O trabalho com crianças, seja ele em escolas, clubes, igrejas, missões, é sempre desafiador em vários sentidos. Existe um dinamismo característico da vida da criança: a fase em que se encontra, se potencial de aprendizagem, seu desenvolvimento psicomotor, sua curiosidade e criatividade, a maturação da faixa etária e a lista continua…
Nós, que trabalhamos com crianças, precisamos entender e acompanhar todo este dinamismo para podermos chegar ao coração delas com o que queremos ensinar. A Bíblia nos mostra em vários textos o cuidado de Deus com as crianças, o seu olhar para elas. Gosto demais do Salmo 139, principalmente dos versos de 13 a 16 onde Davi reconhece o olhar de Deus durante a sua formação na gestação. Deus estava lá cuidando de todo o processo embrionário. Sim, Ele acompanha todo o nosso desenvolvimento!
“Tu formaste o meu interior e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te agradeço por me teres feito de modo tão extraordinário; tuas obras são maravilhosas, e disso eu sei muito bem. Tu me observavas quando eu estava sendo formado em segredo, enquanto eu era tecido na escuridão. Tu me viste quando eu ainda estava no ventre; cada dia de minha vida estava registrado em teu livro, cada momento foi estabelecido quando ainda nenhum deles existia”.
Temos o relato do menino Samuel que servia a Deus desde pequeno. No Novo Testamento temos a história do próprio Jesus que nasceu como um bebê numa família, teve irmãos, brincou como todas as crianças, foi para a escola da época, aprendeu a ler as escrituras e crescia em “graça, estatura e sabedoria diante de Deus e dos homens” (Lucas 2:52). Jesus crescia de forma integral. Assim devemos olhar nossas crianças: com um olhar integral para as suas necessidades espirituais, emocionais, cognitivas, psicomotoras. Temos hoje uma demanda maior de crianças neuro atípicas em nossos grupos. São crianças que aprendem de modo diferente e precisam ser atendidas, escutadas de um modo especial. Elas também são alvo de Deus, podem e devem também crescer em “graça, estatura e sabedoria” através do seu relacionamento pessoal com Deus.
Vamos conversar um pouco sobre o conceito atual de criança. O relatório da UNICEF do ano de 2000, classifica como criança as pessoas que se encontram nas faixas etárias entre 0 e 18 anos. A psicologia classifica a primeira infância entre 0 e 7 anos, a segunda infância entre 8 e 12 anos, a adolescência entre 13 e 18 anos. Atualmente a adolescência tem sido apontada por alguns autores dos 13 até os 25 anos e após esta idade como jovem adulto.
Mas, no contexto de MI costumamos trabalhar dentro da faixa etária entre 0 e 12 anos, separando, quando possível, em grupos entre 0 a 3 anos, 4 a 7 anos, 8 a 12 anos. Na minha vivência com MI, nem sempre esta classificação ideal acontece. Abordo este assunto com mais detalhes no Volume 6 da Coleção Desafio do Ensino Bíblico (Construção do Projeto Pedagógico do Ministério Infantil) onde discuto profundamente o dinamismo das faixas etárias e como lidar com elas.
Outro aspecto importante que sempre me chama muito a atenção é a ideia distorcida que muitas pessoas têm de que trabalhar no MI é “cuidar de crianças”, é “brincar com as crianças”, que não precisa se preparar “tanto”, afinal é só para ficar com as crianças. Discordo totalmente destes argumentos! Trabalhar com crianças é algo muito sério, é preciso responsabilidade e compromisso com a vida delas diante de Deus. É preciso muito preparo. E saber selecionar bons currículos, com temas bíblicos e atividades propostas adequadas a faixa etária que a criança se encontra.
No Brasil contamos com bons materiais, mas, por incrível que pareça, não é a mesma realidade na Europa, na África e em outros países onde o cristianismo é inexpressivo. Os pastores, missionários em campos transculturais não contam com materiais especificamente preparados para ministrar as crianças daquela cultura.
PESQUISA
Numa pesquisa que fiz com pastores e missionários transculturais no início de 2023 sobre dificuldades e necessidades no trabalho com as crianças, pude constatar alguns tópicos importantes para uma boa condução do trabalho. A amostra contou com respostas de pastores e missionários assim distribuídos:
- A amostra com 40 pessoas representada por 19 países diferentes,
- Trabalham em igrejas, projetos missionários, escola e programas extracurriculares,
- A maioria trabalha nas faixas etárias entre 7 a 10 anos e 11 a 15 anos,
Em relação ao material didático:
- A pessoa mesmo cria o material,
- Usa material da internet,
- A agência fornece,
- Não usa nenhum material,
- Não tem material didático na língua local,
- Sente falta de material de apoio adequados
Em relação as maiores dificuldades:
- Fazer as adaptações das aulas,
- Dificuldades para contextualizar o conteúdo,
- Não sabe elaborar a aula, o plano de aula
- Não sabe estudar os textos bíblicos
Em relação a capacitações:
- Entender melhor sobre a faixa etária,
- Receber treinamento para o trabalho,
- Aprender como trabalhar, como elaborar a história,
- Aprender como elaborar o plano de aula,
- Ter rotina regular de capacitações
Também expressaram dificuldades para envolver os pais e famílias, para lidar com multi línguas, para prender a atenção das crianças e lidar com sua agitação, poucas pessoas na equipe, grupo com faixas etárias muito diferentes.
ANÁLISE DA PESQUISA
Nesta breve análise da pesquisa podemos constatar o dinamismo do trabalho com crianças e a necessidade de estarmos sempre buscando soluções diante das demandas que surgem durante os trabalhos. Na minha trajetória no Ministério Infantil desde 1980, todos estes assuntos apresentados acima são constantes, recorrentes e cada local tem sua própria necessidade em virtude do tamanho do grupo, cultura local, recursos tanto financeiros quanto de pessoas disponíveis. E atualmente, com as observações feitas durante minhas estadias na Alemanha, na Uganda, em Portugal onde resido atualmente, constato que as dificuldades são maiores devido a necessidade do material oferecer orientações especificas para a contextualização cultural.
Com esta preocupação em mente, apresento a Coleção Andando com Jesus justamente para preencher esta lacuna nos ministérios transculturais em relação a material didático adequado para a faixa etária, orientações sobre como trabalhar, como preparar seu estudo bíblico e sua aula e muito mais. A proposta é oferecer 50 histórias bíblicas distribuídas em 13 temas do Novo e Antigo Testamentos, com toda orientação pedagógica, proposta de atividades e sugestões para as adaptações necessárias.
Meu desejo é poder servir com a minha experiência e bons materiais aqueles que servem nos diferentes campos missiológicos. Deus te abençoe e vamos caminhar juntos neste grande desafio que é levar a boa mensagem de Jesus às crianças.
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