Idosa com véu em oração em um templo iluminado por velas, rodeada por outras pessoas devotas.

A vida é feita de etapas e ciclos. Como Salomão discorre no livro de Eclesiastes 3:1-8 há tempo para tudo:
• Para nascer e morrer,
• Para plantar e colher,
• Para rasgar e costurar,
• Para chorar e rir.

O tempo de nascer na maioria das vezes traz grande alegria, mas por outro lado pode vir carregado de dor por surpresas inesperadas. O nascer traz mudanças na vida:
• nascer para a Luz,
• nascer para outras vivências,
• nascer para experimentar reconstruções e restaurações.

No processo da vida plantamos sementes através das nossas escolhas. Um dia vamos colher o que elas produzem. Tempo de rasgar, de se desafazer de coisas velhas que não servem mais, tempo de costurar coisas novas, diferentes, atualizadas. Envolve jogar fora para abrir espaço para o novo. Tempo de chorar as dores, as perdas, o sofrimento e em contrapartida há tempo de muitos risos. São tempo paradoxais, contrários.

Fotos instantâneas penduradas em um varal contra um céu azul, evocando nostalgia.

Salomão poetiza os tempos destes acontecimentos de forma concreta e real. Na transcendência destas colocações posso afirmar que os mesmos tempos acontecem de forma subjetiva nos nossos processos emocionais. Todas estas vivências envolvem movimentos emocionais que fazem parte dos registros da nossa história de vida. Fazem parte de algum modo das nossas memórias.

E estas memórias são lembranças que nos dão forma, nos tornam pessoas únicas. São depósitos de todas as experiências vividas, sejam elas boas, agradáveis ou tristes e sofridas. Todas somam na construção de quem somos, como pensamos, sentimos e projetamos nosso olhar para a vida. Nossas memórias fazem parte de nossa identidade.

Fica a pergunta:
“quem sou eu quando estou a viver a dor da separação, da morte, do luto?”

Não sei quem sou agora na viuvez, não sei o que será na solidão do quarto, da mesa, da casa!”

A perda do cônjuge traz um vazio inexplicável que por um tempo nos tira o sentido da vida. Muitos ajustes são necessários para caminhar na dor. Muitas interrogações ficam sem respostas durante o luto. A nossa identidade precisa de um reajuste: de esposa para viúva, de marido para viúvo. Com frequência alguns cônjuges se ajustam no casamento com um deles cuidando de tudo e o outro sendo cuidado. Quando o cônjuge cuidador falece o outro fica bem perdido para tomar decisões, para entender o que não fazia antes, as vezes não sabe fazer coisas de banco, de mercado ou outras atividades do dia a dia.

Itens essenciais (carteira, smartphone, cartão de crédito, chaveiro) organizados sobre uma mesa de madeira.

Mas a vida continua… dia após dia, noite após noite, semana após semana… ela continua. E nós precisamos continuar também. Precisamos ser protagonistas da nossa dor. Tomar as rédeas para conduzi-la para o lugar da esperança, lugar de novas possibilidades.

A viuvez traz mudanças radicais no processo da vida. Muitas delas nunca havíamos imaginado poder vivê-las: ou porque durante o casamento não havia nenhuma possibilidade ou condições, ou porque nunca havíamos pensado nelas, ou porque foi um sonho perdido ou enterrado.

A viuvez é o momento de fechar uma etapa na vida que não volta mais. A presença ausente circula agora nas lembranças, nas memórias, nas fotos, nas histórias recontadas.

Mas a vida continua… Como? Através da possibilidade de ressignificar o seu sentido, através da construção de novos caminhos que lancem o olhar para a “parousia” (gr), ou seja para a esperança que está em Cristo e o novo olhar que só Ele pode dar. Um olhar que nos lança para a eternidade, que nos lança a um mergulho em proclamar a Sua vitória sobre a morte.

Mulher suspensa no ar segurando balões coloridos no topo de uma montanha nevada sob um céu estrelado.

Agora, irmãos, não queremos que ignorem o que acontecerá aos que já morreram, para que não se entristeçam como aqueles que não tem esperança (parousia). Porque cremos que Jesus morreu e foi ressuscitado, também cremos que Deus trará de volta à vida, com Jesus, todos os que morreram.” I Tes 4:13-14

Na viuvez ganhamos mais liberdade para servi-Lo, para preencher nossa vida em proclamar o Reino onde estamos e por onde passamos. Há liberdade para Deus nos levar à vivências que nos preencherão e nos trarão um novo sentido à vida.

Para que a vida continue a ter sentido é preciso fazer escolhas e tomar decisões. Escolher viver o luto para poder sair dele, lamentar tudo o que for preciso para limpar a dor, desejar e pedir pelo novo que só Deus pode dar.

Temos o exemplo da profetiza Ana (leia em Lucas 2:36-38) que ficou viúva ainda jovem, com apenas 7 anos de casamento e escolheu dedicar sua vida a servir a Deus em jejuns e oração. Ana teve o privilégio de reconhecer o menino Jesus como o Messias tão esperado dando graças a Deus falando a todos sobre Jesus. O seu ungido ministério não foi afetado pela sua idade avançada (84 anos) nos oferece um olhar de esperança de que há sempre um ministério nos aguardando para influenciar e moldar as gerações mais novas.

Bebê dorme em um berço de palha, coberto por um pano branco, com mãos adultas ajustando o pano.

Que neste tempo de viuvez possamos seguir o exemplo da profetiza Ana que dedicou sua vida a servir o Senhor colocando sua esperança Nele, orando, jejuando, falando do Messias a todos os que O esperavam.

A verdadeira viúva, uma mulher sozinha no mundo,

põe sua esperança em Deus. Dia e noite, faz súplicas e orações. I Tim 5:5

Lea Marcondes

Psicóloga, especialista em Transição Cultural. Ajuda missionários, pastores, líderes e famílias cristãs a se prepararem emocionalmente para uma mudança de país, ajustando o seu chamado e projeto de vida aos novos desafios.
Auxilia para que enfrentem de forma mais saudável as adaptações na nova cultura neste momento tão importante de suas vidas.
Presta consultoria para igrejas e missões na área da educação e ministério infantil.


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