Nas minhas conversas com brasileiros que moram em outro país, escuto com frequência a dificuldade que eles têm para lidar com a solidão. Os amigos e familiares que estão no Brasil diminuem a frequência das conversas e alguns não procuram mais para conversar. A diferença do fuso horário é um empecilho que dificulta os ajustes para os encontros. A relação de afeto com os amigos, irmãos da igreja, família, que acontecia no Brasil se dilui.
A construção de laços afetivos em outro país não é nada simples e a cultura geralmente tem maneiras diferentes de construir laços de amizades. É tudo muito lento e o sentimento de estar sozinho vai crescendo porque não consegue desenvolver relacionamentos que preencham afetivamente. Vivemos neste momento de pandemia onde o afastamento entre as pessoas ficou maior o que dificultou ainda mais este aspecto dos relacionamentos.
Sentir-se só envolve vários fatores que precisam ser avaliados do ponto de vista situacional. Posso me sentir só no meio de uma multidão, assim como me sentir só estando sozinha em algum lugar. Sentir-se só está relacionado com a percepção sobre si mesmo, a baixa autoestima, não estar bem consigo mesmo, ou estar vivendo uma situação onde não encontra pessoas para compartilhar.
O que é solidão
A solidão não está relacionada a não ter pessoas à minha volta, estar em isolamento. Conheço pessoas que estão rodeadas em casa, ou com amigos e se sentem solitárias. Mas, hoje, entendo que em algum momento da vida precisamos ter um encontro com a solidão para podermos penetrar no íntimo da alma e encontrar um “lugar seguro” consigo mesmo para acolher e acalentar a inquietude que a solidão traz. Este encontro com a solidão não é sinônimo de isolamento.
Henri Nouwen aborda este tema em seu livro Crescer: os três movimentos da vida espiritual. Ele afirma que “ para viver uma vida espiritual, primeiro devemos ter coragem de entrar no deserto de nosso isolamento e transformá-lo por meio de esforços sutis e persistentes em um jardim de solidão. O movimento que vai do isolamento à solidão não é um movimento de crescente recolhimento e pode lentamente tornar possível a conversão de nossas reações temerosas em respostas de amor”.
É preciso fechar-se para conhecer-se profundamente para depois desabrochar para ir ao encontro do outro. A consciência sobre si mesmo preenche o vazio inquietante porque me reconheço, sei quem eu sou e onde estou na jornada da vida, consigo “me acolher” sem restrições.
A vivência em outra cultura amplia o sentimento de solidão, ela ganha novas dimensões, não apenas relacionais. É a vivência do banzo, ou seja, de uma melancolia misturada com vários sentimentos: saudades da terra natal, dos aromas e gostos, dos sons da pátria, vozes na língua mãe, palavras no português que não tem o mesmo significado na outra língua, saudades do abraço caloroso, corpo no corpo, aaaffff, muitos movimentos internos!
O mergulho no banzo tira o nosso foco do caminho necessário para as adaptações e ajustes na outra cultura. O banzo é a passagem pelo isolamento para poder sair dele. É um mergulho de encontros necessários para descobrir respostas sobre si mesmo. Respostas importantes para o crescimento e amadurecimento.
Enfrentar a solidão é ter coragem para olhar para si mesmo, buscar soluções para questionamentos, ajustar o amor próprio para poder se entregar com leveza aos relacionamentos com o outro, aquele outro que é diferente de mim e ao mesmo tempo tão humano como eu. Lidar com a solidão é lidar consigo mesmo na busca de superar os medos e incertezas.
Como lidar com a solidão se me sinto só?
É relevante você encontrar um espaço acolhedor onde você possa expressar seus sentimentos sem temor de ser julgado. Espaço onde você possa olhar cada faceta da solidão, cada faceta das suas reações, colocá-las no lugar e acalmá-las. Te convido a conhecer a Mentoria de Transição Cultural que oferece este espaço de escuta empática para você.
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